sábado, janeiro 20, 2024

Tudo doi
Tudo doi
Só meu corpo
se salva

quarta-feira, novembro 29, 2023

me refresca antes
de me queimar fumegante
Pra eu possa morrer
no inferno
mas com memórias de
água fresca

quinta-feira, outubro 12, 2023

Iconoclastas de grandes
estruturas metálicas
que destroem até os sonhos
mais sublimes e delicados
 
Nada ficará de pé
sob a ira obsoleta
dos solitários

segunda-feira, outubro 09, 2023

Quero o cocar de sete estrela
Cintura de panteão
Um pente de centurião
E uma bolsa cheia de cravelha

Um instrumento medieval
Sentinelas na calçada
Sete velas de esmeralda
Ladeira de carnaval
Umbigo de Dionísio
Resvalada de Corvinal

Plantas em espiral
Morar na casa de Seu Elísio

Quero esse sonho acordado, sem medo alienado.

3 de abril de 2012

domingo, setembro 17, 2023

O medo de olhar
e não reconhecer mais
E não haver despedida
E haver tanta memória
E só memória
Meu medo era outro
Mas tinha medo
De olhar de frente
Pr'esse medo

Mas de tanto desviar
o olhar certeiro
já não lembrava
da face
do primeiro medo

E o medo de olhar
parece
Era o único medo

E era enorme
Há em mim um arquipélogo de boas lembranças
O mar? Puro sofrimento
Mas visito, com carinho, cada ilha-momento
E fico um tempo, antes da maré subir 
e me pôr em perigo
Nada mais perigoso que navegar 
por cada porção de terra-memória
Mas fico o quanto posso
pra lembrar
teu beijo
teu cheiro
o carinho que me arrebatou
a pele
o pelo
cada faísca do teu olhar
e teu sorriso, que é quase continente.

sexta-feira, maio 19, 2023

Um barco pequeno
é um barquinho. 
Estar um pouco só 
é estar sozinho?

Mas se eu estou muito só,
Solidão. 

quinta-feira, abril 20, 2023

Alucinações Olfativas

Olor
Desejos de cheiro
Odores oníricos
Aroma de tez
Olência oscular 
Fragrância saudade 
Perfume de tu

Poema de Amor

Eu pisei numa nuvem. Enquanto atravessava a rua, já voltando desistente pra casa, pisei numa nuvem. Úmida e fria num dia quente. Parei na calçada do outro lado e, sem olhar pra trás, baixei a cabeça para mirar meus pés descalços: Duas pipas.  Eu, neste momento, fio sem cerol e rabiola, olhava lá pro fim de mim: Eu-pipa. O Sol no rosto. A brisa no peito. Fiquei ali mesmo, até à madrugada quando pousei em mim e voltei pra casa. Dormi sorrindo.

sexta-feira, março 31, 2023

Prato-amuleto
Como à sorte
jardins de domingos 
e manhãs de pássaros.

Trago ventos em
finas taças
bebo levezas
e enuvesso em vapores.

domingo, março 19, 2023

Marcaram-se os telhados
das casas com as lágrimas
dos teus sorrisos
Manchando em terracota escura
as telhas antes escaldadas
pelo sol dos teus
mesmos olhos

sábado, março 18, 2023

Tenho me cansado
das solidões dominicais
Que iniciam ao entardecer
dos sábados
e jamais terminam

sábado, março 11, 2023

Ame
Mas
Não desame-se

Pois amor
é amar-se
antes

sexta-feira, março 10, 2023

Provisar

Improvisar
sempre que puder
e quando
não se puder,
se improvise.
És verde floresta
e despetalado
lírio olente
Perene caule
canela
Dás cheiro
a toda flor. 
Minha face soltou-se do rosto
Despencou livre no espaço aberto
Enquanto meus olhos, sem pálpebras
Assistiam tudo esbugalhados.

Carnaval

Hoje pela manhã
estendendo fantasias
no varal
Percebi algumas esgarçadas
pelo tempo
pela máquina
pelo uso

Outras já sem brilhos
paetês e lantejolaa
faltando

Mais memórias que
pedrarias. 

Ao vento e ao sol
as fantasias já não me serviam
pra brincar o carnaval. 

quarta-feira, janeiro 18, 2023

Viagem

Agora moro na superfície
de tua pele
visito, com frequência
os pelos da tua nuca
Meu quintal.

Percorrendo hectares
de conforto dermal
tua pele
forraria um oceano inteiro

Que eu beberia
só pra sentir todo teu tamanho 
percorrer meu próprio ser 
Que expande ao te conhecer.

As distâncias que minha 
mão percorre do teu ombro 
à esfinge do teu oblíquo 
Se mede em tempo
Da noite ao alvorecer 

Quero dias de pele. 


Leitura Labial

Não me digas que me amas
me beije, apenas.
Movimenta tua boca
mas não fales
Pronúncia o que tu queres
mas sem som
Teus lábios nos meus.
Mas não fales.
Não digas nada
Basta nossos hálitos
Nada mais que o som molhado
do eu te amo.

sexta-feira, janeiro 06, 2023

Flor de difícil desabrochar.
Não se engane com a poesia
apenas deixe-se levar pela
mentira de cada palavra
que fere fundo a falsidade 
em nós mesmos.

Ontem

Amanhã ela volta
sabe encontrar caminhos
carinhos e aconchego

Já eu, me perco em
virar a esquina

Um dia, passei o alpendre de casa
pra ver de perto um besouro leão
nunca encontrei caminho de volta

Mas ela, ela volta
ela volta ao amanhecer
a fome bater
e a saudade dizer:
Volta.

Hoje

Ela voltou, veio junto com o Sol
e o cantar dos passarinhos.
Foi caçar sonhos fugidos
que se perderam no pântano ali perto

Sábia, não se preocupou com
a angustia que brotou naquela casa
Foi só um miado e tudo sumiu

Mas os sonhos perdidos,
esses sim precisam dos olhos de sangue.
Faz tempo que não sonho que voo. 
Faz tempo que não lembro o que sonho.

Brasa

Vi uma brasa
linda, brilhante e morna
Mas não lembrava do que se tratava
A brasa, me chamava
Minha mão estava ilesa
memoria alguma me advertia
Peguei a brasa de mão cheia
como quem pega um besouro
Lembrei de imediato do que se tratava
E foi vã a velocidade que larguei-a no chão.

Febre

Hoje acordei inflamado
uma febre que termômetro
algum aferiria. 

Fiquei de cama
da cama não saí
não sei se nela eu me deitava
ou se ela que deitava em mim.

Meu corpo todo era peito
palpitando, sem noção
ou esperança.

Dei uma cidade

Eu quis dar uma cidade,
a chave dos segredos maravilhosa
desta cidade.

Quis dar o Recife e suas pontes
seus rios e toda alegria possível
quis dar. Dar de presente. Toma,
a cidade é tua.

Dei.

O que eu não imaginava
era que perderia um mundo
Dentro do mundo, minha própria
cidade. Perdi os habitantes todos,
as pontes, os rios e toda alegria possível.

Meu barco encalhou num lamaçal
fétido. É noite, As rhizophoras escondem
qualquer ponto de luz e não há estrelas.

Mas dei a cidade. Sei que dei.
Dei a cidade e amores
os meus. Toma,
são teus.

Não me sobrou nada?
finquei esperanças na lama negra
do mangue. E deitei.



quarta-feira, janeiro 04, 2023

Ele sentiu o gosto do gume
antes mesmo de sentir o gosto
metálico do próprio sangue. 
Mentiu para o rei.

Hoje

Ela voltou, veio junto com o Sol
e o cantar dos passarinhos.
Foi caçar sonhos fugidos
que se perderam no pântano ali perto

Sábia, não se preocupou com
a angustia que brotou naquela casa
Foi só um miado e tudo sumiu

Mas os sonhos perdidos,
esses sim precisam dos olhos de sangue.

Ontem

Amanhã ela volta
sabe encontrar caminhos
carinhos e aconchego

Já eu, me perco em
virar a esquina

Um dia, passei o alpendre de casa
pra ver de perto um besouro leão
nunca encontrei caminho de volta

Mas ela, ela volta
ela volta ao amanhecer
a fome bater
e a saudade dizer:
Volta

terça-feira, janeiro 03, 2023

Eu silencio tua voz

mas encosto o ouvido na porta
desesperado de medo
de acabar ouvindo algo.

Se só no teu silêncio tenho paz
busco incessantemente
tua fala, que só me diz
o que me cura, nos meus
próprios delírios de sonho.

Que medo de ouvir-te
e de nunca mais ouvir tua
voz
Não se engane com a poesia
apenas deixe-se levar pela
mentira de cada palavra
que fere fundo a falsidade 
de nós mesmos.

Ninhos

A árvore pesada de ninhos

choca ovos de sonhos
no furico dos passarinhos

Que voam no primeiro raiar do sol 
para colher o azul que tece
as asas do planar da noite

E que também ela vem pousar,
procurado descanso,
sob a copa escura da árvore

Que nunca florescerá.

Não, não chores

“Não, não chores"

É frase dita só em poesia
Chores os rios todos que tiveres
Todo líquido que se vai do corpo
É vida.

Exceto o vermelho rio
Que só há foz na revelia
da violência.

Sol e Farol

Pela primeira vez em eras

Parecia que raiava um Sol
Mas era apenas o engano de sempre
Noite turva, sem farol.

O que dói não é ter seu sorriso
apenas no fechar dos meus olhos
Mas sim o meu próprio 
Que foi feito por tuas mãos 
e que agora sobrou-me apenas
a frieza do metal.

quarta-feira, dezembro 28, 2022

Esperei vinte horas
para ouvir tua voz
Só queria ouvir um boa noite
Ouvi um adeus
Desliguei antes de por
o fone no gancho.

Eu esperava falar
um sincero
Vou pra onde você for
Basta quase nada
E estarei lá
Mas ouvi um
Não venha
Não temos pra onde ir. 

Que caminho nos leva
as ligações cruzadas
Que desviam tão bela estrada
Pra um lamaçal de tristezas 
arrependimentos e lágrimas.
 
Mas marquei tua voz com força
Na minha memória. 
E se me esforço, consigo ouvi-la dizer
Boa noite
Mesmo sem nunca ter ouvido. 
Mas deito e durmo. 
E o dormir também 
É apenas fantasia. 
Como tua voz
Me dizendo Boa Noite
Nos buracos da lagarta 
botei flores
Flores florindo nas folhas.
Florindo o vazio
De quem partiu
Pra ser borboleta





terça-feira, dezembro 27, 2022

Engoli Poemas

Esta noite rasguei
todos meus poemas.

Um a um, amiúde
até chegar ao ilegível.
 
Engoli todos
Voltaram de onde vieram

Não foi nada
Foi o medo do 
vento levar
mais um tesouro.

Todos voltaram a 
ser o que sempre foram
eu. mas em mim apenas.

Lembrança de Beijo

Sinto saudade do teu beijo
até durante o próprio beijo,
Pois o beijo é prenúncio
do fim do mesmo beijo.

No entanto, o teu beijo
não tem desfecho
Dado que te beijei
já se contam três dias
e três noites, mas
ainda me mantenho nele
permanentemente capturado

Mergulhado na umidês 
percorrendo, lentamente
ao que não sei se eu ou se tu
Confluindo numa maciez 
até então desconhecida.

Assim, dentre todas as coisas 
que existem
Só existe o beijo
e a saudade do beijo. 

Nada mais.

segunda-feira, dezembro 26, 2022

Hoje me perguntei
"Por que não há mais poemas
dado que a dor passou?"
Não há poemas
Porque há um o beijo.

Há uma névoa em meu olhar
Que como lente
Além de embaçar, distorce

Preciso de imensidão.
Meus demônios habitam quartos solitários
fazem toca em meus travesseiros.
Não resistem nunca à praia

O pior do insone
Não é a insônia.
É, sim, constatar
que ainda é tão cedo.

 Mas há uma paz nesse farfalhar de árvores no escuro. A superfície da piscina ignora o vento. É charme. Balança morna em suas correntes de represa. Se conquista o vento? não sei. Mas faz inveja aos coqueiros que não conseguem esconder nada, nem à mais leve carícia de vento.

Sobre o Beijo

Eu só queria
sabe
Assoprar
um dente-de-leão.

Falsa Distância

Do Marco Zero
Observo a Torre de Cristal

Mas não há barquinhos
Nunca houve ponte.

O rio, que não é só agua
Também é distância intransponível.  

Queria a coragem
daqueles dois meninos
que pulam e vencem a longitude.

Mas me falta tudo.
Exceto a pequena
e intransitável
distância.

Não é o cheiro de livro
novo que me pega.
É o cheiro da tua mão
Que exalou o último poema que eu li

Era tão triste o poema.

Que difícil deve ser,
praquele que foge
sem olhar pra trás,
Ter de passar por
tanta placa dizendo:
"Retorno Recife".

Escutei no consultório

Esta semana é um hífen
no meio da frase do mês.

Capibaribe

Ninguém me salvará à madrugada
Nem as capivaras
As lavadeiras em redemoinho
Sequer o rio
Ou os monstros no fundo do rio
Estranhamente tépido
E profundamente escuro.
Todos dormem
À lama escura ao fundo das aguas.

Seu leito de água e vento
Leva consigo lembranças
Feitas e a germinar

Mas, na escuridão da madrugada
Tudo se confunde em negro
Lama, leito, vento
E o morno, estranho morno das águas
Que entorpece a todos 

quinta-feira, novembro 24, 2022

Desistir é tão importante quanto persistir.

A joia é o discernimento.

quinta-feira, novembro 17, 2022

Miocárdio

Eu quero morrer de infarto
Não há morte mais bonita
(se é que há beleza
Mas não há morte mais bela

Um Infarto Agudo do Miocárdio
Fulminante
Diriam
"Morreu de amar"

Não há morte heróica
martírio
ou tranquila morte
Que supere a beleza da aguda
pontada no peito
(que sempre doeu 
a mão que amassa o bolso da camisa
o grito rasgado que antecede
o silencio.
(eterno


Quero morrer assim
Pois amei demais

Não há morte mais bela 

terça-feira, agosto 16, 2022

Não fez mais que sua obrigação de poeta

Fez chorar, chorou
Fez amar, amou
só não foi amado.

sábado, agosto 13, 2022

Nem Chet Baker
Nem a rua
Nem o sorriso de uma criança

Nem o músico no ônibus
Nem o menino bonito que levanta a camisa
Nem a flor no meio-fio

Nem os profetas

segunda-feira, maio 09, 2022

Acidente Geográfico

Hoje sou um acidente geográfico

Geológico. 
Montanha inversa
Pequena pedra
Meteorito
Planeta solitário
Longe do Sol
Risco celestial

09 de Maio de 2015

terça-feira, abril 26, 2022

Lápide

Morreu mais um
e morrerá mais outro
O crescer é lento
e o morrer instantâneo

A lápide pesa mais que o berço 
dura mais
mas não pra sempre.

terça-feira, fevereiro 01, 2022

Ovos fritos

    Quando olho no espelho, sim, eu me reconheço. Vejo um rosto familiar, sei que sou eu. Mas, ao fundo, o que penso mesmo é que sou por acaso. Digo, sim, sou eu. Mas não sinto uma certeza absoluta como quando vamos fazer um ovo frito e ao vê-lo no prato pensamos "Sim, o ovo que acabei de fazer". Não. Eu me olho no espelho e penso que o que reflete é um mero acaso. Assim como quando olho para João e penso "Estou olhando para João, mas poderia ser qualquer outra pessoa. O Jorge, a Catarina ou uma árvore". Assim que sinto, o que vejo no espelho, sim, sou eu, mas poderia ser qualquer outro refletido. Esse que vejo não me parece que simplesmente é. 


    Mas esse que pensa e olha, esse olhar que vê o espelho, esse não. Esse transpassa apenas o reconhecimento. Não me questiono se sou eu. Mas isso dura pouco. E acabo pensando também, assim como se deu no reflexo "Esse que pensa, sim, sou eu... Mas por mero acaso".

domingo, novembro 14, 2021

 Num mundo de egos

quem vê que é cego

sabe que não é rei.

terça-feira, outubro 12, 2021

Entrei em contato com o calor de um passarinho
Não sei raça, não o vi
Se voava ou descansava num galho
Não o sei
Qual encontro inesperado
e improvável

Eu e um passarinho
na imensidão do universo
ou melhor
Eu e o calor úmido do passarinho
na imensidão do universo

Um bem-te-vi no altar

Um passarinho fez um ninho bem a cima do altar.

Não no altar, mas lá no lustre, bem em cima do altar.
Cantávamos juntos améns, glórias e misereres.

De certo, seus raminhos cheiravam a incenso.
Quando cantava me fazia olhar pro alto
fazia meu canto também se elevar
em coral com o bem-te-vi.

Mas hoje a missa foi silenciosa
tiraram o lustre daquele altar
[manutenções, obrigações.
Contingente]
Foi-se o ninho do bem-te-vi.

Na silenciosa missa de hoje,
ecoava o triste piar do passarinho
assobiando améns, glórias, mas mais misereres.

Pio bem-te-vi.
Não encontrou seu ninho,
não reconheceu as faces
nem luzes, nem os sons.
O contraste do lá de fora
Não canto, mas barulho
Não lustre, mas concreto
Não incenso, mas fumaça.
Onde reconstruir um ninho?
Logo um que seus raminhos cheiravam a incenso.

Mas há de se reconstruir um ninho, sempre.
"Considerai como crescem os lírios do campo"
Pensou o bem-te-vi. E piou baixinho
Amém, glória e meserere mei.

domingo, abril 11, 2021

Cílios

Um alento de contato, entre os filhos dos olhos
Uma lente de contato, entre os cilhos alados

— O pêlo que guarnece a beira das pálpebras dos homens e dos macacos.

sábado, fevereiro 13, 2021

Muriçocas

Sussurram
e sem dolo
incutam desejos de auto agressão.

Aqueles leves insetos
que de tão leves
Leves asas sustentam 

Sussurram vontades
De agressão e desespero
aos nossos ouvidos

E pagam com a própria vida
o realizar feito
dos seus sussurros.

Gole Vazio

Em cada detalhe
um choro engolido.

Não há vazão 
pro vazio 
que se estabelece(u)

vaga-
rosanente. 

Em cada vazio
um gole de choro.

E um choro vazio
em cada gole.  

segunda-feira, janeiro 04, 2021

Como guerreiros a invadir o horizonte, uma lança escapa do além'mar e finca uma nuvem escura. A Lua, já com medo de sua sina, corre a se esconder pelo outro lado do firmamento. A cavalaria de fogo invade a noite espalhando suas chamas pelo céu, brandindo suas flamulas inflamadas. A Lua nesta hora, já fugira de medo pelo outro lado do céu. As estrelas todas furadas pelas flechas ardentes do Sol, deixam escorrer seu sangue azul pelo céu. Vence mais uma batalha o astro maior, o Sol.

quinta-feira, dezembro 24, 2020

Eu estou sem
Mesmo nunca sentindo que tinha
Transbordou uma falta

Não é uma vazio
já que preenche tanto

Tinha algo aqui
eu lembro
Mas agora faz falta
e não há uma lembrança.

Tinha algo aqui
sei até apontar onde
mas não sei dizer o que
nem quando
sumiu.

sábado, dezembro 19, 2020

Fecharam os olhos
todos os faróis à minha volta

e há continentes terríveis.

sábado, dezembro 05, 2020

Salão

Perdi o andar vertical
Sigo deslizando entre fileiras
Riscando um horizonte infindável
entre colunas tirânicas
de pesos infinitos
que sustentam
um firmamento
já vão 

Um vão que se forma
de ponto a outro
na vastidão de um salão
também infinito
com um fino espelho d'água
a cobrir tudo

Úmido,
deslizo

Sorrateiro de mim e de tudo
Mas não em vão
nem realmente só
Nem completamente triste

Mas triste, sim
muito triste
Mas não só
triste
Nem só. 

sábado, outubro 31, 2020

A única flor que realmente há beleza em seu arrancar, é o dente-te-leão. Que não denota morte, mas fertilidade e vida. É o momento singular onde o sopro do homem, também é o sopro da vida. 

domingo, agosto 30, 2020

Desde os meus oito anos resolvi guardar todas as pedras que encontrava em meus sapatos. 
Guardava-as dentro de um jarrinho de vidro. 
Tinha planos do que fazer, no futuro, quando o pote estivesse cheio e tivesse que trocá-lo. 
Hoje, com meus quase sessenta anos, não somei mais que quinze pedrinhas minúsculas.
De fato, aos vinte sete anos, troquei o recipiente. O antigo era grande demais. Hoje as pedrinhas andam comigo no bolso, num potinho bem pequeno. 
O que seria de mim. 
O que seria de mim se não as tivesse colecionado todas? 
Com carinho. 
Com dedicação.

domingo, julho 05, 2020

O amor não é raro

O amor não é raro
Raros são os peitos abertos
encharcados de inflamável paixão

O amor não é raro
Raros são os olhos abertos
a procurar qualquer sutil faísca de ternura

O amor não é raro
Raro é o tato aberto, sensível, 
a pele propositalmente arrancada
para sentir tudo que há pra sentir
em tudo que há

O amor não é raro
Raro é o destemor

Raro é a mão que,
aberta e sem medo,
entrega uma alma frágil
para ser tocada. 

O amor
não
é
raro.

terça-feira, junho 23, 2020

Nada é tão fácil

Nada é tão fácil
Segurar um pássaro nas mãos requer destreza
Um tanto de compassividade
e leveza

Nada é tão fácil
Segurar as mãos num pássaro requer destreza
Um tanto de compassividade
e leveza

Nada é tão fácil
Segurar leveza nas mãos requer um pássaro
Um tanto de compassividade
e destreza

Nada é tão pássaro
Segurar o fácil nas mãos requer um tanto.

Fábrica de Tijolos

Eu tenho uma amiga
e ela tem uma fábrica de tijolos.
Vi no decorrer dos anos ela construir tanto, arranha céus
fez moradias, igrejas, capelas e shopping centers.

Ela não notava
era coisa de família
negócios que nos passam despercebidos.
Não notamos.
Mas ela tinha uma fabrica de tijolos
desde cedo
muito cedo.

Desde sempre.

Vi desmoronar várias vezes
casas, castelos, sonhos, capelas e shopping centers
e reergue-los, lindos edifícios.
Sem notar, tinha uma fonte inesgotável de tijolos.

Construía casas
vendavais levavam
outras horas, reformas
às vezes apenas mudança de cidade.

Aos poucos foi percebendo a fornalha
um fogo ardente, enorme e quente
que ao invés de consumir
cozia
criava e construiria.

Tijolo por tijolo, foi percebendo
lentamente
a argamassa, cimento e brita.

Ela tinha uma fábrica de tijolos.
Reconstruía sempre,
Infinita fonte.

Um dia
enquanto ainda percebia
Sentiu arder seu ventre.
Notou-se fornalha ardente
mas ao invés de consumir
paria.

Eu tenho uma amiga
ela é uma fábrica de tijolos.
E oceano.

Andreza Marinho.

domingo, maio 17, 2020

É preciso florescer
Florestar-se
Enraizar.

terça-feira, maio 12, 2020

Orfandade

O que é a morte de um pai ausente?
O que se sente na saída de um pai que nunca esteve?

A morte de um pai ausente
É a ausência da ausência presente
É não ter definitivamente o que nunca tive
A orfandade me vem como desilusão
É a morte de uma esperança
A morte do que nunca vivi

A morte do pai ausente é o afago tépido do Pai Eterno
A morte da possibilidade

Se tive um pai sempre distante
A orfandade me chega preenchendo todas estas lacunas com presença.

Foi a primeira vez que o vi dormir.

Saibam por mim:
Ser órfão não é o mesmo que não ter pai.

Diferente do lugar de pai, enterro hoje um esquife presente e preenchido
Com a esperança de pai.

domingo, abril 19, 2020

Às vezes temos pérolas

Às vezes temos pérolas
que nas mãos de outros, viram lama.
Deixemos, às vezes, nossas pérolas
protegidas
em feias ostras.
Na língua macia das ostras.

domingo, março 01, 2020

Sobre lavar pratos

É tanto prato e panelas e copos e pires e xícara e cadinhos e tampas e potes e garfos e facas e as colheres. Espuma e detergente e esfrega e água e enxague e coloca e equilibra e molha e espuma e o cheiro acre da preguiça.

quinta-feira, fevereiro 13, 2020

é como um navio é como um cais

é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é como um navio é como um cais é

domingo, fevereiro 09, 2020

Percurso de lágrima

Repentinamente uma lágrima escapou
Saiu morna e silenciosa, dificultando minha percepção
Acelerou-se para a liberdade, passou rápido pelo nariz
Tentei, incrédulo com tudo isso, captura-la
Mas só alcancei seu rastro, molhado
Ao chegar no desfiladeiro do maxilar, parou um segundo
Respirou fundo e
pulou.

Aquilo era tudo muito novo
Levantei barreiras intransponíveis
Tão complexas que não conhecia mais os funcionamentos
Complexas, antigas, concretas. Intransponíveis.

Houve silêncio
Um formigamento no rosto
A visão fosca por uma baía salgada
Um desespero, uma alegria velada e esquisita
Meus olhos fumegando
E como um estouro, uma avalanche
um descarrilamento
Um caudal.

O fluxo de água e sal a muito trancafiado
com as porteiras abertas da minha alma
fugiu numa quantidade sem precedentes
O medo da pequena oportunidade se dissipar
fez todas as lágrimas se atropelarem
Queriam sair todas de uma vez
e parece que saiam

Eu via aquilo tudo como que de longe

E num momento, um som
Um guincho, eu acho
Um grito agudo e dissimulado
Eu nem sabia que havia preso
E o primeiro gemido úmido saiu
E não diferente das lágrimas
me fogem todos os ais, de uma vez
mas eram tantos, eram muitos

Eu, meio de longe, não sabia o que era lágrima
ou gemido, ou qualquer tanto de fluidos e sons
desconhecidos, improváveis
Foram escapando. Escapando.

Não contei, mas acho que foram sete dias e sete noites
ou quarenta.

Então, percebi um vazio, um espaço amplo
Salões inexplorados
Um vazio escuro, nunca iluminado
Um espaço novo e tão desconhecido.

E uma leveza.

sexta-feira, janeiro 31, 2020

Cicatriz esquecida

Tenho uma cicatriz no calcanhar esquerdo. Fui um acidente na piscina quando eu era criança. Sofri um bocado. A cicatriz não é pequena e as memórias são muitas. Porem, as vezes passo um ano ou mais sem lembrar dela. Não por esforço. Simplesmente ela está num local que eu não passo muito o olho. As vezes eu acho que eu passo mais de ano sem lembrar disso, acredita? Sim. Mas a cicatriz está lá. Além de todas as memórias também. Vocês entendem? Nada sumiu, nada foi esquecido e eu não me esforço pra não pensar. Está lá e sempre estará.

Um pedreiro meche comigo

Tem uma construção aqui perto de casa.
Toda vez que eu passo
um pedreiro meche comigo.
Já tem uns dois meses.

E ele nem sabe.

Espirito Santo

Estava eu sem fazer nada, vi um grupinho de cinco homens discutindo religião e politica. Uns tios que não entendiam nem de um nem de outro.
— Posso ficar pra ouvir?
Acharam estranho. Eu de boné azul, shortinho azul, tênis azul e meio afeminado:
— Pode.
Quando cheguei, estava um deles, obviamente o que toinha a Bíblia na mão, falando sem parar e claramente se distanciando do ponto que estava sendo debatido momentos antes de eu chegar. Os outros, impacientes, ficavam "Chega logo ao ponto, rapaz!" e "Deixa eu falar!", mas ele não parava. Interpelava-os com "Não posso ler a Palavra?". Foi quando Intervi:
— Sim, mas qual é o ponto? Ainda não entendi o que cada um está defendendo ou acusando.
Os outros tentaram me explicar, mas ele interrompia. Lia versículos com pouca ou nenhuma ligação um com o outro. Eu sempre muito atento ia, aqui e ali, fazendo pequenas correções amigáveis.
O primeiro apertou minha mão, foi embora. Depois o segundo, o terceiro. No final só estava eu. Escutando ele ler aleatoriamente um Isaías, um Romanos. "Você está entendendo, pq da pra ver que você já leu a Bíblia". Na verdade nunca li. Mas sei uma coisa ou outra. No final, ele percebeu que realmente não falava mais nada com nada. Como eu estava ouvindo com atenção e não replicava nada, acho que ele passou a se ouvir e ficou acanhado. Então comentei:
— O senhor viu que ninguém ficou?
— Ah meu filho, não é todos que querem ouvir a Palavra.
— Na verdade é que eu acho que o senhor é meio prolixo, as pessoas acabaram não querendo mais ouvir.
Ele sorriu desconsertado.
— Mas ficou você, não é mesmo? Quem sabe não foi o Espirito Santo que lhe tocou pra me escutar?
— Ou quem sabe o Espirito Santo me tocou pra eu falar isso pro senhor? O senhor precisa articular melhor as palavras. Quando melhor o senhor falar, mais pessoas vão parar pra lhe escutar. Preciso ir agora.
E ele ficou lá. Com um olhar meio perdido.

Amanhotem

Hoje eu queria estar em outro dia.

— Sonhei contigo

— Sonhei contigo
— Hmmmm e foi? Me conta.
— Eu nem lembro direito
— Seiiiii hahaha vai, conta
— Melhor não, tu vai ficar sem graça
— Eu? Sem graça? hahahahha vai conta
— Tá. Eu sonhei que eu vomitava na tua boca e tu virava uma casa de praia.


(Facebook, 9 de Janeiro de 2020)

quarta-feira, setembro 26, 2018

Convalecente

Hoje uma criancinha, linda, respondeu trin-trin pro meu trin-trin da bicicleta
O moço da fila disse "Pode passar na minha frente"
A mulher na rua chamou o gato como se fosse cachorro:
— Alvinho, já pra casa! Entra!
E ele obedeceu.
Na casa Espirita, aprendiam alguma coisa
senti uma energia boa.
As moças da cantina me chamara e falaram:
— Olha como a gente te identifica na comanda
"Gato", tinha escrito.
O porteiro abriu o portão antes de eu pedir
Tinha um menino com a bolsa escrito
GUEI
— Gostei da bolsa!
Disse, enquanto passava por ele de bicicleta
Deu tempo de ver ele feliz, e encabulado, agradecer.
Independente da minha alma
que compadece
O mundo floresce.

sexta-feira, outubro 21, 2016

Cavalo selvagem - Conto zen

Ele tinha mente tal qual cavalo selvagem. Arisco e bárbaro, não deixava-se domar e nunca aquietava-se. Não desanimado ele incessantemente esforçava-se a doma-lo. O proposito era evidente, precisava montar a mente.
Sete semanas se passaram e, suado, o homem tentava domar sua mente-cavalo. Desastrosamente falho. A cada aproximação o cavalo pulava, corria e relinchava ao seu bel-prazer. E quando viu-se segurando o laço com força e, por um momento, imaginou-se com as rédeas da mente, o coice o jogou do outro lado do campo.
Desistiu.
Desatou os laços e sentou-se em baixo de uma arvore.
O cavalo danou-se a correr pelo pátio, livre. Saltos e relinchos, agora de alegria. E ele observava de longe. Cada trote, cada pulo. Observava com atenção cada movimento. O movimento livre do cavalo.
Viu-se montado no cavalo a cavalgar.
Não havia cavalo.
Não havia sombra, nem árvore.
Não havia homem.
Só havia o todo.
E era vazio.

Ao final do raio, nasce uma fogueira

A emoção
— raiva, alegria, decepção, desilusão —
é como um raio,
que corta o céu do ser em um segundo apenas.

O resto é memoria
e retroalimentação.

Que a fogueira que você anda alimentando?
qual nasce ao cair do raio.

quinta-feira, janeiro 15, 2015

Mousi

Esse movimento, que não sei o hoje
De ontem, tão pouco moveu o dia
Cada passo conduz, em si mesmo, um prazo
Que se dissolve em seu próprio mover
Derrete-se em leves saltos

em leves segundos

segunda-feira, novembro 03, 2014

Um velho um dia me disse que o amor não existe.
Eu acreditei.
E volto pra dizer que
Se o amor não existia, eu o criei
com minhas próprias mãos.

segunda-feira, maio 05, 2014

Il cielo e la neve

Está nevando no meu quarto
Sopra um vento frio e solitário...
Nada é real além da solidão
E do escorregadio chão de ilusões

segunda-feira, fevereiro 10, 2014

Semente

Cada poema é um pedaço de si mesmo, que se esvai como como pólen, ao encontro de férteis e ventres corações.

sábado, fevereiro 01, 2014

Criar expectativas é sim um ato agrário

Criar expectativas é sim um ato agrário.
A terra normalmente já fértil e sempre arada
Úmida de chuvas passadas e de um rio de esperança que corre ao sul

Ao menor sinal do Sol e de novas chuvas, toda a terra é semeada
Hectares.

Não mais que um dia e os brotos aparecem
Esverdeando o solo até perder-se de vista no horizonte

Os caules começam a endurecer, as primeiras flores nascem
E do que era verde, explode em cores e aromas.

A plantação barra os gira-sois e as tulipas.

E então. Depois de pouca espera, começam a nascer os frutos.
E é neste momento que conhecemos os bons fazendeiros.

Todo fruto é possível.

E de todos os frutos, o mais excêntrico é o da ilusão.
Há os que sabem apreciar como quem come fruta da palma sem se machucar nos seus espinhos. Mas há os que se envenenam.
Nem todos sabem apreciar um bom fruto de ilusão.

Mas dessas expectativas também pode não nascer nada, ou tudo.
Cabe a quem planta saber aceitar e se alimentar do que nasce.

A minha safra morreu.
Mas mesmo sem frutos maduros colhidos, apreciei toda a linda plantação nascer.
Amar é beber o amargo gosto da desilusão e saber saborear o que se imaginava doce.

quarta-feira, outubro 16, 2013

Ávido de nascer ave
voou breve no colo dos sonhos

Morrendo breve no colo dos sonho
voou ávido no colo dos anjos.

sexta-feira, outubro 11, 2013

Batatinha Frita 1, 2, 3!

Sorvete colorê, batida salve todos.
Golô o ovo, pé repete
O elefante é de que cor? pega congelô.
Primeiro de roda, pega cocorô.
Fulaninho atras do poste
Não vale, falei primeiro.
Adedonha, zerinho ou um
Corre, é quem chegar primeiro.

Censou.

segunda-feira, setembro 09, 2013

Tentando ser uma pessoa que não é
Pra ir para um céu que não existe.

sexta-feira, setembro 06, 2013

Como perder tempo
Com o relógio amarrado na braço?

Como amarrar os ponteiros
Pra desamarrar os sapatos?

Entre os ponteiros e o vidro
Vácuo

quinta-feira, setembro 05, 2013

Tiros.
Ouvi tiros pela janela.
Meu coração nem disparou.
Medo.
Medo de não me impressionar mais.

quinta-feira, agosto 15, 2013

þrá

É desejo e saudade
Amor e iniquidade,
Soberba liberdade,
De quem outrora
Se viu livre pra voar.
Tatuei teu nome em mim
Com a cor da minha pele.

quinta-feira, agosto 01, 2013

Sentado na beira do rio ele lia os novos contos de Charlote Cadense. Seus cabelos, em cuia, voavam perdendo a forma recorrente. Dançava na lisa pele. “Corredeiras desciam a cordilheira. Cadentes cofres de cintilantes cores. Corvos.” Não gostava da maneira que Charlote usava as palavras. Mas lê-la lembrava-o do seu passado. Sim, seu passado distante. Um ano, apenas. Não era de se espantar, Pedro tinha 16 anos. Um ano é uma vida.

sexta-feira, junho 14, 2013

Husserl e Sartre conversavam num café de Basileia.
Sobre o que conversavam?
Sobre o gosto bom do café naquela tarde.
Minha vontade é de chorar ao ver o modelo de policial que temos.
Mas a lagrima seca em desgosto e vira cuspe. Escarro.
Hoje eu tive um lindo passeio por Recife.
Que caminhada gostosa!
Na praça de Santa Izabel começamos a cantar. 
Tendo o coração vazio sabiá canta tambem. 
A rua da Aurora foi cumplice de outro dueto.
Ninguém, ninguém, verá o que eu sonhei. 
Só você meu amor.
Ninguém verá o sonho que eu sonhei.
Sentando em um banquinho na esquida na Ponte Princesa Isabel com a Aurora
Vi fusquinhas passarem com pessoas lindas.
Pela ponte cantamos mais e fomos cantando, sonhando e amando.

Que noite maravilhosa.
É tudo tão lindo e tão terrivel.
A lágrima rola no riso sem contradição.
Essa cidade é louca.

quarta-feira, maio 22, 2013

Inspiração

Um dia perguntaram a um grande criador:
-De onde vem a inspiração?
-Vem de tudo - respondeu calmamente - de todas as coisas que estão ao seu redor, que entram em contato com você, que participam com você da vida.
-Então a inspiração está no ar? - Perguntou o curioso, com um leve tom afirmativo.
-Não, não está no ar. - respondeu claramente o criador e continuou - O ar por si só não é nada. É só o ar, sendo ar. Mas quando eu respiro, quando ele enche meus pulmões de vida, e que oxigena meu corpo e cerebro. Isso sim é inspiração. Só depois disso tudo vem a expiração, que é tão importante quanto a inspiração. Do contrario morremos inflados.

sexta-feira, abril 12, 2013

Vestuário

Cadarço a amarra-lhe os pés.
Gravata a enforca-lhe a voz e o folego.
Relógio a algema-lo num tempo alheio.

Não esqueça-se de apertar bem o cinto,
diafragma solto é problema na certa.

Abotoe calmo sua blusa,
lembrando a cada botão:
"As roupas da lavanderia chegam em breve."

terça-feira, março 12, 2013

No final, somos só nós e nós mesmos.
Ao lado, a angustia, tão sempre desprezada
mas sempre ao lado, sempre presente.

Mas amanhã, mesmo assim, o Sol nascerá
E a angustia, fera sem pálpebras, esperará
o derradeiro momento da inércia do sono
para lembrar-lhe:

"Estou aqui, tenha um bom dia."

segunda-feira, março 04, 2013

Todas as auroras já não brilham mais
Tantas outras não brilham ainda.

domingo, março 03, 2013

Dancei ciranda na chuva
Chovia ciranda na nuca

domingo, fevereiro 17, 2013

Doce caligrafia

Ah se eu pudesse escrever o que eu sinto.
Seria escrito em uma língua diferente da que eu entendo.
Mas seriam letras lindas, palavras de doce pronuncia.

Em uma caligrafia fina e tremula,
escreveria palavras fortes.
Finas linhas e profundos sulcos no papel,
daqueles que sentimos ao passar os dedos.

Lindos floreios e borrões
espalhando a tinta por todo o papel,
formando desenhos inexprimíveis

Letras de mulher, com força masculina

Rasgos no papel, da afiada caneta esguia
O que será dessa carta.

O cheiro metálico da tinta é sentido por quem lê
Relembrando desgostosos acidentes do paladar à caneta

Se eu pudesse escrever o que eu sinto
Escreveria palavras indiscretas de leitura pesada
e dicção dificultosa.

Ah, se eu pudesse me escrever em papel molhado de pingos salgados e doces risos.

quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Fora de nós, tudo é palavra.

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Feliz é a espuma, que flutua em bolhas cadentes no mar da imaginação.

domingo, dezembro 09, 2012

Oréade.


                Havia um homem que morava ao pé de uma montanha. Ele era só. Sempre viveu só. Curiosamente subia todas os dias aquela montanha de pedras escorregadias e pontiagudas.
                Além de sua vida absurdamente solitária. Chamava muito a atenção dos moradores, o estranho costume que ele tinha de subir, quase todos os dias, aquela montanha.
                Curiosos, os moradores escolheram uma pessoa para descobrir o estranho motivo que aquele velho tinha pra subir a montanha. Decidiram que no próximo dia, o escolhido iria seguir o velho até o topo, escondido e descobrir tudo.
                No outro dia, como de costume, o solitário velho se preparou para a íngreme subida. Não era fácil. Pedras afiadas e pontiagudas botavam a vida em risco. O curioso sumia escondido alguns metros atrás. Depois de um bom tempo, já com os joelhos e mãos machucados o velho chegou ao topo da montanha. Fechou os olhos sentindo as caricias do vento. Tomou folego e gritou para a cordilheira – Eu te amo.





Texto e ilustração: Cayo Cé.

segunda-feira, novembro 19, 2012

Quem ama, ama porque o amor transborda de si.
Não cabe em um só peito, até que acha outro que também transborda
então se enchem, se saciam e matam eternamente a sede sem fim.

Mas há os que amam porque lhes faltam amor. Cuidado.
E ela sofria enquanto cantava suas próprias dores.
E na música ela contava todas. Uma a uma. Um numero enorme.
Um numero incrível de musica e lagrimas.
O palco era a lista de seus sofrimentos.

domingo, novembro 18, 2012

Minha boca sangra malditas palavras não ditas
que trazem ao paladar o gosto metálico e exótico do arrependimento.

terça-feira, novembro 13, 2012

Cacofonias e repetições

Quero ver, quero ver tudo
ver além, além de tudo.
Quero cegar, cerrar meus olhos.

Quero sentir, sentir de tudo
tocar a alma, tocar o mundo.
Quero sarar, trocar a pele
a carne viva, a flor-da-pele.

Quero escutar, ouvir a alma.
Cortar os tímpanos, ouvir mais nada.

Quero falar, cantar o mundo.
Quero calar, fechar a alma.

sexta-feira, outubro 19, 2012

Saiba; eu posso ter alergia ao remédio que lhe tira a dor de cabeça.

O que lhe cura, pode me envenenar.

segunda-feira, outubro 15, 2012



Queria ter virado uma pintura rupestre.
Ficado pintado lá nas paredes do Catimbau.
Correndo sem cabeça por seis mil anos.

Ou uma pedra. Vivendo inerte por milhões de eras.
Vez ou outra rolando pela ribanceira, clímax da vida.

Ou apenas virado uma brisa. Ajudar uma folha seca a chegar no chão e sumir.

sexta-feira, outubro 05, 2012

Ter Sol nos olhos.
 Dói como qualquer dor, qualquer paixão ardente.
 Dói como raio arrebatador, como fuligem cósmica nos olhos.
Terçol na alma, nas suas janelas.

domingo, setembro 09, 2012

Sou negro de cor, europeu de odor e índio de terra.
Todos cantem, todos cantam.
Sou dança, poeira e sangue.
Sou terra, suor-mar, sou rio.
Sou pedra de ouro, madeira de sangue e tambor de kalangu.
Sou terra e além mar.

Todo o céu que lhes guardem.
Todo canto que os assopre.
Toda vela que os leve, que os vele, que os vale.

Sou pai, filho e espirito santo. Amém.

quinta-feira, junho 28, 2012

Na mesmice do marasmo
sento na noite do não fazer
E nessa madrugada fria
espero amanhã ser

Conservo-me na nem inercia

domingo, maio 20, 2012

Um grande teste

                Era um dia decisivo. Depois de anos de treinamento um aprendiz iria ser testado pelo seu mestre. Foram anos de exercício árduo na mais especifica arte marcial. Um exímio lutador. Então seu mestre chegou trazendo um robusto bastão de bambu, uma das armas mais bem manejadas pelo aprendiz.

-Mandei colocar um grande tigre dentro daquele cômodo. – disse o mestre e enquanto entregava a arma, falou – Vá, quero ver se você é capaz.

                O jovem fez uma grande reverencia e seguiu indômito. Entrando numa grande sala, viu sentado no cato um grande tigre. Sim, bastante grande, mas velho. Era um tigre que já não era tão feroz. Também percebeu que suas garras estavam serradas. E suas duas principais presas, arrancadas.

-O que será isso – pensou o aprendiz – por que colocaram um tigre nesta situação?

                O tigre, mesmo velho, avançou com sua ferocidade selvagem pra cima do aprendiz. Desviando da primeira investida o aprendiz começou a colocar seus ensinamentos marciais em pratica. As investidas eram ininterruptas. Quanto mais ele batia, mais raiva sentia por terem colocado um tigre moribundo, que pra ele não oferecia perigo nenhum. O tigre não resistiu e morreu. Ainda com raiva, o aprendiz saiu da sala. Arrastava com certa dificuldade o pesado tigre. Soltou na frente do mestre e esperou os congratulações em reverencia. O mesmo simplesmente olhou para o tigre e comentou:

-Não achei que você seria capaz.

                Jamais se encontraram novamente.

quarta-feira, abril 11, 2012

Um alento de contato, entre os filhos dos olhos
Uma lente de contato, entre os cilhos alados

-O pêlo que guarnece a beira das pálpebras dos homens e dos macacos.
Cayo Cé

segunda-feira, março 05, 2012

Des[a]prender

                Dois gnomos liam bastante. Gloin lia um livro, colocava no chão de frente a estante e pegava outro. Quanto mais ele lia, mais aumentava a pilha de livros em que ele estava sentado. A estante de livro era altíssima, não faltavam títulos. Enquanto Gloin acumulava livros e já estava a 5m do chão, via que além dos muros do labirinto, havia um mundo. E cada vez que ele lia mais e ficava mais alto, mais o conhecia.

                Enquanto isso, Trufo lia um livro calmamente. Depois de ler, rasgava o livro em pedacinhos e jogava num cesto. Gloin, além de achar o ato do amigo um absurdo, achava o próprio amigo muito ignorante. A torre de livros de Gloin já passava os muros do labirinto e agora ele tinha que pescar os livros na prateleira La em baixo. E via o amigo burro lendo um livro, rasgando e jogando em um cesto.

                -Você é muito ignorante Trufo - gritava Gloin com um pequeno alto falante de latão - Não vai chegar a lugar nem um assim! Daqui posso ver as montanhas e acho que em pouco poderei ver o oceano. 

                Trufo já tinha rasgado uma quantidade incontável de livros. De lá de cima, com sua pequena luneta, Gloin o via jogar água e cola dentro da bacia empanturrada de papel picado. Gloin tinha lido um livro, riquíssimo, sobre reciclagem de papel e percebeu logo o que o amigo estava fazendo.

                -Você é mais burro do que eu imaginava Trufo - gritava Gloin, desesperado para ser ouvido - só tem eu e você nesse labirinto, você vai escrever pra quem rapaz? Daqui já consigo ver uma coisa azul, não sei ao certo se é um lago ou se já é o oceano, mas você está perdendo de conhecer as coisas jogando tudo fora assim!

                A pilha de livros de Gloin já chegava a quase tocar as nuvens. Bambeava um pouco, dava até medo. Mas Gloin se vangloriava de poder ver tanta coisa, observar tantos detalhes. Sim, estava um pouco chateado de não ter mais o amigo pra conversar, mas é por que ele ficou tão burro lá em baixo... Enjoou de olhar pra uma montanha e foi ver o que o amigo estava fazendo. De longe, viu Trufo ascendendo uma pequena chama.

                -Aquele louco agora ta queimando papel? - Se espantou Gloin, que quase se estabacou de cima da sua pilha de conhecimento. - Agora já passou dos limites da ignorância, a obtusidade de Trufo chegou ao seu limite extremo. É um caso de esquizofrenia paranoide aguda, sem duvida - Gloin tinha lido um livrinho sobre psicologia. - Trufo seu ignorante você agora ta queimando pap...

                Foi quando Gloin viu uma coisa que nunca tinha lido.

                Todo aquele papel virou algo que parecia uma lâmpada, um jarro de ponta cabeça ou uma gota que pingava pro céu. Era branquinho, branquinho. Aquele papel todo, cheio de palavras, com as informações mais preciosas, tinha se transformado em um lindo... como era mesmo o nome? Balão. Trufo subia em uma velocidade espantosa, um foguinho na boca do balão aquecia o ar e, como Gloin tinha lido, o ar quente era tão mais leve, mais solto, desprendido. Ele que tinha aprendido tanto...


                Em poucos segundos o balão se igualou à Gloin e Trufo disse.
                -Adeus amigo, agora vou conhecer o mundo.”

quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Ode a puta (ou Odete, a puta.)

Eu que durmo de quarto em quarto
Sinto o peso das minhas excamas
Sinto o peso de suas exmolas
O brilho fosco de minhas exquinas
Os rasgos molhados dos meus vestidos
                                                            [trocados de noite em noite]
Sinto os fidalgos perdidos jogados de sanidade vã
Que se esvaem de mim como sêmen
Como são, como não são, como não sou. Como não sã
Iansã que me toma no leito e me acalenta o peito, mordido
Santa Barbara que me aquece o ouvido
Me lembra que de meu peito não sobrou nem o hímen.

Odete Gomes

terça-feira, janeiro 10, 2012

Sabe quando você se mergulha
Quando você se bebe
Quando se derrama
Quando é choro e quando é onda
Sabe quando se é liquido a escorrer pela esquina,
pela escada
Pelo fim, pelo meio, pelo fio
Sabe quando é vapor, fumaça de gelo
Sabe água?
Sabe fluido morno que dá vida
Sabe sopa, sabe mar?
Sabe quando seca
Sabe quando sede, quando cai em cachoeira?
Sobe nuvem? Desce chuva.
Sabe água?

Seja litros.

domingo, janeiro 08, 2012

Dei um tiro no meu pé
No grito, comecei a filosofar.

quarta-feira, novembro 30, 2011

Cefaleia

Cefaleia é o nome de uma cidade imaginaria.
Uma cidade em guerra civil.

Ah, Cefaleia dos guerreiros doidos, das noites em claro.
Cefaleia dos amores perdidos, das esperanças esvaídas.
Nas tuas ruas, dor. Nas tuas casas fogo.
Cefaleia dos guerreiros sem cansaço.
Procura paz e muda teu nome.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Canto #1

Oh, teu peito madrigal, ópera do meu desassossego
Cantei desesperanças à solidão
Mas me vieste tu. Não a flor no deserto, entre rochas proféticas
Mas um jardim no olho da floresta ardente entre arvores maestrais
És o jardim, a floresta e o canto majestoso dos pássaros
É cheiro, cor, Cassandra, colírio, dor, prestigio e desassossego
Pressão real da pulsação do meu peito
És real e denso como a carne que evita, diariamente, ser devorada pelos dentes diurnos, soturnos e idolatrados do cotidiano esfumaçado, pedregoso e asfaltado, mas que no fim da noite reina absoluta e imponente na junção dos corpos suados e insatisfeitos de paixão e luxuria.

terça-feira, agosto 16, 2011

Eu me perco na inércia do desapego.
não no sentido de não me achar,
mas no sentido de não me empregar

não me arranhar.

quinta-feira, abril 14, 2011

Então corremos juntos na chuva.
Ninguem sabia o que era choro, o que era chuva.
Ninguem sabia o que era felicidade, o que era tristeza.

quinta-feira, abril 07, 2011

Layla.

O céu estava lá, eu vi. Só não via sentido. O mar estava lá, eu vi. Só não via sentido. O vento estava lá, eu senti. Só não via sentido. As flores estavam lá e não murcharam, eu vi. Só não via sentido. O sol estava lindo, brilhava, eu vi. Só não via sentido. O sangue escorria rubro, eu vi. Só não via sentido. Todos corriam, sem sentido mesmo. Ela estava no meu colo, como sempre. Só não tinha sentido. O buraco no peito ainda estava quente e minha mão o comprimia vã. Ela estava morta, como tudo um dia estará. Só não tinha sentido. Eu estava vivo, eu sabia. Só não tinha sentido.
Kampf Rugdz

quarta-feira, março 16, 2011

Esse Crepúsculo me veio e trouxe de presente uma paleta de cores.
Com ela pintei um poema.
E guardei pra mim.
Cayoce