domingo, setembro 17, 2023

O medo de olhar
e não reconhecer mais
E não haver despedida
E haver tanta memória
E só memória
Meu medo era outro
Mas tinha medo
De olhar de frente
Pr'esse medo

Mas de tanto desviar
o olhar certeiro
já não lembrava
da face
do primeiro medo

E o medo de olhar
parece
Era o único medo

E era enorme
Há em mim um arquipélogo de boas lembranças
O mar? Puro sofrimento
Mas visito, com carinho, cada ilha-momento
E fico um tempo, antes da maré subir 
e me pôr em perigo
Nada mais perigoso que navegar 
por cada porção de terra-memória
Mas fico o quanto posso
pra lembrar
teu beijo
teu cheiro
o carinho que me arrebatou
a pele
o pelo
cada faísca do teu olhar
e teu sorriso, que é quase continente.