quarta-feira, junho 10, 2009

Salvar a Terra: Conscientização ou medo?

Este trabalho tem como finalidade propor uma discussão sobre o suposto perigo de extinção e morte dos seres vivos do Planeta Terra e a relação disto com a cultura de “Salve o Planeta” vinculada nos meios de comunicação e ensinada nas escolas como parte integrada de uma participação cidadã. Pretende também expor teorias e pensamentos a propósito destes assuntos, como a Hipótese da Terra Rara e critica sociais feitas por George Carlin para com isso tentar entender e formular hipótese sobre a causa destes acontecimentos.

Iain Simpson Stewart é um geólogo escocês e professor de geociência da Universidade de Plymouth, na Inglaterra. É conhecido por aparecer freqüentemente em documentários sobre o assunto.
Em seu documentário Earth - The Power of the Planet Stewart comenta sobre a Hipótese da Terra Rara. Termo que tem origem no livro Rare Earth: Why Complex Life Is Uncommon in the Universe do geólogo e paleontologista Peter Ward, e do astrônomo e astrobiólogo Donald Brownlee.
A teoria consiste em expor as diversas circunstancias singulares necessárias para a existência de vida complexa. Stewart apresenta em seu documentário varias destas circunstâncias. De acordo com os dados extraídos do documentário, explorarei os principais aspectos da teoria.

Do ponto de partida da criação da Terra até os dias de hoje, com a aparição de vida complexa, existem 4,5 bilhões de anos de acontecimentos astronômicos, geológicos e biológicos. Podemos começar citando que a estrela do nosso sistema, o Sol, é do tipo mais adequado de estrelas que conhecemos. Ela queima e produz a energia necessária para o planeta Terra.
Aproximadamente a 4,5 bilhões de anos atrás existia um planeta na órbita da Terra, Thea.. Pelo fato de pertencerem à mesma órbita, em um determinado momento, elas se chocaram. Este choque provou uma cadeia de acontecimentos importantes. Com esta colisão a Terra aumentou substancialmente de tamanho, com isso potencializando a sua força gravitacional. Sem esta gravidade a atmosfera vazaria gradativamente para o espaço e se não fosse pela atmosfera não existiria vida na terra. A atmosfera é responsável por mante-la aquecida, conduzir o clima, oxigenação, e proteção contra objetos que por ventura entrem no seu campo gravitacional.
Além do aumento massivo, o choque também acrescentou maior energia para o núcleo. Por este núcleo ser constituído basicamente por metais o seu campo magnético foi potencializado e serve como escudo para a os ventos solares. Sem está proteção a radiação solar seria implacável para a existência de vida complexa.
Quando Thea entrou em contato com a Terra ela se desintegrou formando um cinturão de fragmentos. No decorrer do tempo, esses fragmentos foram se aglutinando e formaram um satélite natural, a Lua. Comparado com outros satélites a lua é substancialmente maior, dado a sua diferenciada criação. A Lua é de extrema importância pra vida complexa. Ela que dá estabilidade para o planeta, equilíbrio climático e a movimentação das marés.
Todos esses acontecimentos convergem para dar suporte à criação de vida complexa. Na falta de um destes fatores a probabilidade de existência da vida cairia drasticamente, além de varias outras características mostradas no documentário e muitas outras explicitadas no livro.
A par disto podemos perceber que as dinâmicas geológicas e astronômicas ocasionam mudanças globais de extrema potencia. E que a vida complexa não deriva de acontecimentos delicados.
Os geólogos dizem que a atuação do homem na terra é tão significativa quanto um acontecimento geológico, mas Stewart comenta que esta ação não levará o Planeta Terra para a morte, assim como nem um outro acontecimento a levou.



O comediante George Carlin em seu texto Save the Planet vai deixar um pouco de lado a questão geofísica para criticar diretamente o ativismo pró Salve o Planeta.
A critica começa com o comentário sobre a quantidade de pessoas que estão preocupadas com tudo. Preocupada com o ar, terra, água, com o solo, preocupados com os inseticidas, pesticidas e aditivos de comida, causas do câncer, preocupadas em salvar as espécies ameaçadas. De acordo com Carlin “Salvar espécies ameaçadas é só mais uma tentativa arrogante dos humanos de controlar a natureza.” Que teria sido a causa originaria de nossos problemas. Ele comenta que mais de 90% das espécies que já viveram no nosso planeta já não existe mais e não fomos nós os culpados, isso é uma situação natural. Ele ressalta o conceito arrogante que os seres humanos apresentam em se achar na posição de tutor da Terra e querer salvar as espécies ameaçadas de arvores, mamíferos, insetos, e a maior arrogância de todas, salvar o Planeta. Ele explica que na verdade estes ambientalistas ativistas não se preocupam diretamente com o planeta, mas sim em um lugar limpo para viver, um próprio habitat. Preocupados em algum dia no futuro se sentirem pessoalmente incomodados.
Carlin não acredita que esteja acontecendo algo errado com o planeta, o planeta está bem, as pessoas que não. O planeta está aqui a cerca de 4.5 bilhões de anos, os seres humanos a apenas 100, talvez 200, mil anos e o engajamento com indústrias pesadas só existe há 200 anos. Ele relembra que o planeta já passou por problemas maiores que nós como terremotos, vulcões, tectônica das placas, raios solares, tempestades magnéticas, inversão magnética dos pólos, centena de milhares de anos bombardeados por cometas, asteróides e meteoros¹ , enchentes globais, maremotos, incêndios globais, erosão, eras glaciais recorrentes. E com isso ele não acredita que o ser humano seja um problema efetivamente eficiente para dizima a vida na terra, mas é absolutamente capaz de dizimar a própria.

Parafraseando Iain Stewart percebemos que ele comunga da idéia de que não é o planeta que corre perigo de morte;



Essa capacidade de lidar com as catástrofes é verdadeiramente algo muito especial da terra. Nosso planeta é muito durão, e não há nada que sugira que isto irá mudar num futuro próximo. A longo prazo, a terra pode superar qualquer situação em que a coloquemos. Nós podemos extinguir todas as florestas, mas ela pode renascer depois de alguns poucos milhares de anos. Podemos queimar todo combustível fóssil, enchendo a atmosfera com dióxido de carbono, mas mesmo assim levaria um milhão de anos ou mais para a atmosfera se recuperar. Até mesmo os animais que estão sumindo eventualmente serão repostos por outros igualmente ricos em diversidade, já que o trabalho implacável da evolução continua. É apenas uma questão de tempo. A terra ficará muito bem.




Conclusão

De acordo com Daniel Quinn, em seu livro Ismael: Um Romance da Condição Humana, o homem criou uma cultura onde ele é colocado como raça e ser de primordial importância para a existência do planeta Terra. Existe uma crença geral e uma sensação de que a raça humana é superior em todos os aspectos globais. Essa cultura, segundo Quinn, começou a ser estabelecida quando o homem deixou de fazer parte da natureza e a tomou como perigosa inimiga de quem precisamos nos defender, domar e dominar.
Partindo deste pressuposto, entendemos que a relação homem-natureza não se da em um mesmo nível. As manifestações naturais são caracterizadas como a favor ou contra a humanidade, mas é aceito que essas manifestações são geradas para simplesmente interagir conosco. Tendo isto em mente podemos exemplificar este sentimento quando o homem entende que, pelo fato da terra ser fértil ela está sujeita a interferência direta e indiscriminada do ser humano. Ela passa, então, a ser considerada uma terra produtiva.
Elaborado este conceito podemos tentar entender e formular uma hipótese para acusar o fator que cria o sentimento de culpa que a humanidade está sentindo por conta das mudanças globais;
Pelo fato do homem acreditar que a natureza existe em função da sua própria existência, ao passo que essa existência [do homem] é ameaçada ele entende que esta natureza está correndo perigo e tenta salva-la. Na verdade é uma tentativa se salvar a si mesmo.

Por: GOMES, Cayo César dos Santos


____________________________________________________________________
STWART, Iain Simpson. (Diretor, 2007). Earth: The Power of the Planet (Dvd-vídeo) Inglaterra: BBC

QUINN, Daniel. Ismael: Um Romance da Vida Humana. Trad. Thelma Médice Nóbrega. São Paulo : Petrópolis, 1988