quarta-feira, dezembro 28, 2022

Esperei vinte horas
para ouvir tua voz
Só queria ouvir um boa noite
Ouvi um adeus
Desliguei antes de por
o fone no gancho.

Eu esperava falar
um sincero
Vou pra onde você for
Basta quase nada
E estarei lá
Mas ouvi um
Não venha
Não temos pra onde ir. 

Que caminho nos leva
as ligações cruzadas
Que desviam tão bela estrada
Pra um lamaçal de tristezas 
arrependimentos e lágrimas.
 
Mas marquei tua voz com força
Na minha memória. 
E se me esforço, consigo ouvi-la dizer
Boa noite
Mesmo sem nunca ter ouvido. 
Mas deito e durmo. 
E o dormir também 
É apenas fantasia. 
Como tua voz
Me dizendo Boa Noite
Nos buracos da lagarta 
botei flores
Flores florindo nas folhas.
Florindo o vazio
De quem partiu
Pra ser borboleta





terça-feira, dezembro 27, 2022

Engoli Poemas

Esta noite rasguei
todos meus poemas.

Um a um, amiúde
até chegar ao ilegível.
 
Engoli todos
Voltaram de onde vieram

Não foi nada
Foi o medo do 
vento levar
mais um tesouro.

Todos voltaram a 
ser o que sempre foram
eu. mas em mim apenas.

Lembrança de Beijo

Sinto saudade do teu beijo
até durante o próprio beijo,
Pois o beijo é prenúncio
do fim do mesmo beijo.

No entanto, o teu beijo
não tem desfecho
Dado que te beijei
já se contam três dias
e três noites, mas
ainda me mantenho nele
permanentemente capturado

Mergulhado na umidês 
percorrendo, lentamente
ao que não sei se eu ou se tu
Confluindo numa maciez 
até então desconhecida.

Assim, dentre todas as coisas 
que existem
Só existe o beijo
e a saudade do beijo. 

Nada mais.

segunda-feira, dezembro 26, 2022

Hoje me perguntei
"Por que não há mais poemas
dado que a dor passou?"
Não há poemas
Porque há um o beijo.

Há uma névoa em meu olhar
Que como lente
Além de embaçar, distorce

Preciso de imensidão.
Meus demônios habitam quartos solitários
fazem toca em meus travesseiros.
Não resistem nunca à praia

O pior do insone
Não é a insônia.
É, sim, constatar
que ainda é tão cedo.

 Mas há uma paz nesse farfalhar de árvores no escuro. A superfície da piscina ignora o vento. É charme. Balança morna em suas correntes de represa. Se conquista o vento? não sei. Mas faz inveja aos coqueiros que não conseguem esconder nada, nem à mais leve carícia de vento.

Sobre o Beijo

Eu só queria
sabe
Assoprar
um dente-de-leão.

Falsa Distância

Do Marco Zero
Observo a Torre de Cristal

Mas não há barquinhos
Nunca houve ponte.

O rio, que não é só agua
Também é distância intransponível.  

Queria a coragem
daqueles dois meninos
que pulam e vencem a longitude.

Mas me falta tudo.
Exceto a pequena
e intransitável
distância.

Não é o cheiro de livro
novo que me pega.
É o cheiro da tua mão
Que exalou o último poema que eu li

Era tão triste o poema.

Que difícil deve ser,
praquele que foge
sem olhar pra trás,
Ter de passar por
tanta placa dizendo:
"Retorno Recife".

Escutei no consultório

Esta semana é um hífen
no meio da frase do mês.

Capibaribe

Ninguém me salvará à madrugada
Nem as capivaras
As lavadeiras em redemoinho
Sequer o rio
Ou os monstros no fundo do rio
Estranhamente tépido
E profundamente escuro.
Todos dormem
À lama escura ao fundo das aguas.

Seu leito de água e vento
Leva consigo lembranças
Feitas e a germinar

Mas, na escuridão da madrugada
Tudo se confunde em negro
Lama, leito, vento
E o morno, estranho morno das águas
Que entorpece a todos