quarta-feira, novembro 29, 2023

me refresca antes
de me queimar fumegante
Pra eu possa morrer
no inferno
mas com memórias de
água fresca

quinta-feira, outubro 12, 2023

Iconoclastas de grandes
estruturas metálicas
que destroem até os sonhos
mais sublimes e delicados
 
Nada ficará de pé
sob a ira obsoleta
dos solitários

segunda-feira, outubro 09, 2023

Quero o cocar de sete estrela
Cintura de panteão
Um pente de centurião
E uma bolsa cheia de cravelha

Um instrumento medieval
Sentinelas na calçada
Sete velas de esmeralda
Ladeira de carnaval
Umbigo de Dionísio
Resvalada de Corvinal

Plantas em espiral
Morar na casa de Seu Elísio

Quero esse sonho acordado, sem medo alienado.

3 de abril de 2012

domingo, setembro 17, 2023

O medo de olhar
e não reconhecer mais
E não haver despedida
E haver tanta memória
E só memória
Meu medo era outro
Mas tinha medo
De olhar de frente
Pr'esse medo

Mas de tanto desviar
o olhar certeiro
já não lembrava
da face
do primeiro medo

E o medo de olhar
parece
Era o único medo

E era enorme
Há em mim um arquipélogo de boas lembranças
O mar? Puro sofrimento
Mas visito, com carinho, cada ilha-momento
E fico um tempo, antes da maré subir 
e me pôr em perigo
Nada mais perigoso que navegar 
por cada porção de terra-memória
Mas fico o quanto posso
pra lembrar
teu beijo
teu cheiro
o carinho que me arrebatou
a pele
o pelo
cada faísca do teu olhar
e teu sorriso, que é quase continente.

sexta-feira, maio 19, 2023

Um barco pequeno
é um barquinho. 
Estar um pouco só 
é estar sozinho?

Mas se eu estou muito só,
Solidão. 

quinta-feira, abril 20, 2023

Alucinações Olfativas

Olor
Desejos de cheiro
Odores oníricos
Aroma de tez
Olência oscular 
Fragrância saudade 
Perfume de tu

Poema de Amor

Eu pisei numa nuvem. Enquanto atravessava a rua, já voltando desistente pra casa, pisei numa nuvem. Úmida e fria num dia quente. Parei na calçada do outro lado e, sem olhar pra trás, baixei a cabeça para mirar meus pés descalços: Duas pipas.  Eu, neste momento, fio sem cerol e rabiola, olhava lá pro fim de mim: Eu-pipa. O Sol no rosto. A brisa no peito. Fiquei ali mesmo, até à madrugada quando pousei em mim e voltei pra casa. Dormi sorrindo.

sexta-feira, março 31, 2023

Prato-amuleto
Como à sorte
jardins de domingos 
e manhãs de pássaros.

Trago ventos em
finas taças
bebo levezas
e enuvesso em vapores.

domingo, março 19, 2023

Marcaram-se os telhados
das casas com as lágrimas
dos teus sorrisos
Manchando em terracota escura
as telhas antes escaldadas
pelo sol dos teus
mesmos olhos

sábado, março 18, 2023

Tenho me cansado
das solidões dominicais
Que iniciam ao entardecer
dos sábados
e jamais terminam

sábado, março 11, 2023

Ame
Mas
Não desame-se

Pois amor
é amar-se
antes

sexta-feira, março 10, 2023

Provisar

Improvisar
sempre que puder
e quando
não se puder,
se improvise.
És verde floresta
e despetalado
lírio olente
Perene caule
canela
Dás cheiro
a toda flor. 
Minha face soltou-se do rosto
Despencou livre no espaço aberto
Enquanto meus olhos, sem pálpebras
Assistiam tudo esbugalhados.

Carnaval

Hoje pela manhã
estendendo fantasias
no varal
Percebi algumas esgarçadas
pelo tempo
pela máquina
pelo uso

Outras já sem brilhos
paetês e lantejolaa
faltando

Mais memórias que
pedrarias. 

Ao vento e ao sol
as fantasias já não me serviam
pra brincar o carnaval. 

quarta-feira, janeiro 18, 2023

Viagem

Agora moro na superfície
de tua pele
visito, com frequência
os pelos da tua nuca
Meu quintal.

Percorrendo hectares
de conforto dermal
tua pele
forraria um oceano inteiro

Que eu beberia
só pra sentir todo teu tamanho 
percorrer meu próprio ser 
Que expande ao te conhecer.

As distâncias que minha 
mão percorre do teu ombro 
à esfinge do teu oblíquo 
Se mede em tempo
Da noite ao alvorecer 

Quero dias de pele. 


Leitura Labial

Não me digas que me amas
me beije, apenas.
Movimenta tua boca
mas não fales
Pronúncia o que tu queres
mas sem som
Teus lábios nos meus.
Mas não fales.
Não digas nada
Basta nossos hálitos
Nada mais que o som molhado
do eu te amo.

sexta-feira, janeiro 06, 2023

Flor de difícil desabrochar.
Não se engane com a poesia
apenas deixe-se levar pela
mentira de cada palavra
que fere fundo a falsidade 
em nós mesmos.

Ontem

Amanhã ela volta
sabe encontrar caminhos
carinhos e aconchego

Já eu, me perco em
virar a esquina

Um dia, passei o alpendre de casa
pra ver de perto um besouro leão
nunca encontrei caminho de volta

Mas ela, ela volta
ela volta ao amanhecer
a fome bater
e a saudade dizer:
Volta.

Hoje

Ela voltou, veio junto com o Sol
e o cantar dos passarinhos.
Foi caçar sonhos fugidos
que se perderam no pântano ali perto

Sábia, não se preocupou com
a angustia que brotou naquela casa
Foi só um miado e tudo sumiu

Mas os sonhos perdidos,
esses sim precisam dos olhos de sangue.
Faz tempo que não sonho que voo. 
Faz tempo que não lembro o que sonho.

Brasa

Vi uma brasa
linda, brilhante e morna
Mas não lembrava do que se tratava
A brasa, me chamava
Minha mão estava ilesa
memoria alguma me advertia
Peguei a brasa de mão cheia
como quem pega um besouro
Lembrei de imediato do que se tratava
E foi vã a velocidade que larguei-a no chão.

Febre

Hoje acordei inflamado
uma febre que termômetro
algum aferiria. 

Fiquei de cama
da cama não saí
não sei se nela eu me deitava
ou se ela que deitava em mim.

Meu corpo todo era peito
palpitando, sem noção
ou esperança.

Dei uma cidade

Eu quis dar uma cidade,
a chave dos segredos maravilhosa
desta cidade.

Quis dar o Recife e suas pontes
seus rios e toda alegria possível
quis dar. Dar de presente. Toma,
a cidade é tua.

Dei.

O que eu não imaginava
era que perderia um mundo
Dentro do mundo, minha própria
cidade. Perdi os habitantes todos,
as pontes, os rios e toda alegria possível.

Meu barco encalhou num lamaçal
fétido. É noite, As rhizophoras escondem
qualquer ponto de luz e não há estrelas.

Mas dei a cidade. Sei que dei.
Dei a cidade e amores
os meus. Toma,
são teus.

Não me sobrou nada?
finquei esperanças na lama negra
do mangue. E deitei.



quarta-feira, janeiro 04, 2023

Ele sentiu o gosto do gume
antes mesmo de sentir o gosto
metálico do próprio sangue. 
Mentiu para o rei.

Hoje

Ela voltou, veio junto com o Sol
e o cantar dos passarinhos.
Foi caçar sonhos fugidos
que se perderam no pântano ali perto

Sábia, não se preocupou com
a angustia que brotou naquela casa
Foi só um miado e tudo sumiu

Mas os sonhos perdidos,
esses sim precisam dos olhos de sangue.

Ontem

Amanhã ela volta
sabe encontrar caminhos
carinhos e aconchego

Já eu, me perco em
virar a esquina

Um dia, passei o alpendre de casa
pra ver de perto um besouro leão
nunca encontrei caminho de volta

Mas ela, ela volta
ela volta ao amanhecer
a fome bater
e a saudade dizer:
Volta

terça-feira, janeiro 03, 2023

Eu silencio tua voz

mas encosto o ouvido na porta
desesperado de medo
de acabar ouvindo algo.

Se só no teu silêncio tenho paz
busco incessantemente
tua fala, que só me diz
o que me cura, nos meus
próprios delírios de sonho.

Que medo de ouvir-te
e de nunca mais ouvir tua
voz
Não se engane com a poesia
apenas deixe-se levar pela
mentira de cada palavra
que fere fundo a falsidade 
de nós mesmos.

Ninhos

A árvore pesada de ninhos

choca ovos de sonhos
no furico dos passarinhos

Que voam no primeiro raiar do sol 
para colher o azul que tece
as asas do planar da noite

E que também ela vem pousar,
procurado descanso,
sob a copa escura da árvore

Que nunca florescerá.

Não, não chores

“Não, não chores"

É frase dita só em poesia
Chores os rios todos que tiveres
Todo líquido que se vai do corpo
É vida.

Exceto o vermelho rio
Que só há foz na revelia
da violência.

Sol e Farol

Pela primeira vez em eras

Parecia que raiava um Sol
Mas era apenas o engano de sempre
Noite turva, sem farol.

O que dói não é ter seu sorriso
apenas no fechar dos meus olhos
Mas sim o meu próprio 
Que foi feito por tuas mãos 
e que agora sobrou-me apenas
a frieza do metal.