quarta-feira, novembro 30, 2011

Cefaleia

Cefaleia é o nome de uma cidade imaginaria.
Uma cidade em guerra civil.

Ah, Cefaleia dos guerreiros doidos, das noites em claro.
Cefaleia dos amores perdidos, das esperanças esvaídas.
Nas tuas ruas, dor. Nas tuas casas fogo.
Cefaleia dos guerreiros sem cansaço.
Procura paz e muda teu nome.

quarta-feira, agosto 17, 2011

Canto #1

Oh, teu peito madrigal, ópera do meu desassossego
Cantei desesperanças à solidão
Mas me vieste tu. Não a flor no deserto, entre rochas proféticas
Mas um jardim no olho da floresta ardente entre arvores maestrais
És o jardim, a floresta e o canto majestoso dos pássaros
É cheiro, cor, Cassandra, colírio, dor, prestigio e desassossego
Pressão real da pulsação do meu peito
És real e denso como a carne que evita, diariamente, ser devorada pelos dentes diurnos, soturnos e idolatrados do cotidiano esfumaçado, pedregoso e asfaltado, mas que no fim da noite reina absoluta e imponente na junção dos corpos suados e insatisfeitos de paixão e luxuria.

terça-feira, agosto 16, 2011

Eu me perco na inércia do desapego.
não no sentido de não me achar,
mas no sentido de não me empregar

não me arranhar.

quinta-feira, abril 14, 2011

Então corremos juntos na chuva.
Ninguem sabia o que era choro, o que era chuva.
Ninguem sabia o que era felicidade, o que era tristeza.

quinta-feira, abril 07, 2011

Layla.

O céu estava lá, eu vi. Só não via sentido. O mar estava lá, eu vi. Só não via sentido. O vento estava lá, eu senti. Só não via sentido. As flores estavam lá e não murcharam, eu vi. Só não via sentido. O sol estava lindo, brilhava, eu vi. Só não via sentido. O sangue escorria rubro, eu vi. Só não via sentido. Todos corriam, sem sentido mesmo. Ela estava no meu colo, como sempre. Só não tinha sentido. O buraco no peito ainda estava quente e minha mão o comprimia vã. Ela estava morta, como tudo um dia estará. Só não tinha sentido. Eu estava vivo, eu sabia. Só não tinha sentido.
Kampf Rugdz

quarta-feira, março 16, 2011

Esse Crepúsculo me veio e trouxe de presente uma paleta de cores.
Com ela pintei um poema.
E guardei pra mim.
Cayoce

domingo, fevereiro 20, 2011

Gaveta

Abri uma gaveta e senti o seu cheiro
Fechei com força e tranquei com duas voltas.
Lá ficou minha insulina, minha aspirina, meu remédio de pressão
Ficaram o controle da tv, a chave de casa e dois livros
Minha bombinha de asma e o nebulizador
Tranquei a chave da dispensa e o jogo de xadrez

Então, quando percebi, dentro da gaveta estava minha casa
À duas trancas estavam meus sapatos, a gravata e o violão
Cerrado entre as madeiras, meus amigos e duas ruas
Todas as lojas e supermercados
Todos os parques e uma floresta
A casa de campo e meu vizinho

Quando me atinei, a minha volta não tinha nada
Só quatro paredes, um chão e o teto.
Todos de madeira, revestidos com teu cheiro.
César Gomes

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Mas é preciso paixão. Paixões arrebatadoras, saraivadas.
Das que se confundem com volúpia, pura luxúria, mas que não o é.

Não tema.

Mas é necessário paixões. Das que dilaceram em prazer, a alma e o corpo.
Das que se confundem com amor, sublime dedicação, mas que não o é.

Paixões. Não tema.
César Gomes

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

No dia que não quis chorar, chorei pra dentro.
E essa lagrima - veneno - corrompe minhas entranhas até hoje.

César Gomes

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

O Ovo e o Ego

Nas entranhas do seu ser existe um objeto guardado. O mais bem guardado de todos os seus objetos. Está ao centro do maior cômodo, em cima de um mosaico, infinitamente belo e helicoidal, feito no chão por lascas de tons vermelhos. É de um tamanho particularmente grande, chega quase ao teto, que é realmente distante do chão. Equilibra-se em um pedestal de triplo pé, onde os pés de metal acabam em uma forma arredondada. É absolutamente homogêneo, imponente sobre o tripé, não se vê uma imperfeição na sua superfície. É como um ovo. Um ovo dourado, grandioso e radiante e absolutamente polido. Nele é guardado o seu EGO mais puro, dentro dele. E a casca é o seu orgulho, dourado. E cada apreço que lhes tem, cada amor que lhe oferecem é guardado em um pote, numa prateleira ali perto e é com eles que você poli seu objeto sagrado. Não abres mão de nem um amor, nem uma paixão repentina, nem um apreço espontâneo e passageiro, muito pelo contrario. Você seduz, induz, enfeitiça mais ainda, pra produzir e armazenar mais um frasco na sua prateleira de troféus.
                Quando um desses frascos cansa e percebe que é só mais um. Quando ele vê que nada mais é que um polidor do seu orgulho e vaidade, ele se rebela. E tenta alcançar seu EGO. E o único modo que ele tem de aparecer... de se destacar... o único meio que você deixou ele chegar perto de você... é no seu orgulho, na sua vaidade. E com um grão de areia de esperança arranha seu orgulho. Esse frasco é jogado pra longe... pro canto do salão. E se sente mal e culpado... arranhou uma coisa linda. E assim vão-se todos os frascos. Uns são quase infinitos... outros são esquecidos e evaporam. São poucos os que simplesmente dão as costas e vão embora.

Hoje eu descobri que teu dourado não é ouro e que teu ego é solitário.

Recife, 22 de agosto de 2008
Cayo Cé.

O Homem do Jornal

E depois que fiquei adulto sempre que choro, pode ser o maior dos prantos, mas sempre que choro, uma parte de mim, como um outro, simplesmente não se abala. Enquanto o resto se deságua em lagrimas, essa parte senta numa poltrona de dentro da minha cabeça e lê seu jornal tranqüilo. Vez ou outra ele abaixa o jornal e questiona - Para que esse chororô todo? Vai se olha no espelho! Você realmente está tão triste assim? Essa vontade de se olhar no espelho, de onde vem? A faça-me o favor, vá lavar o rosto e parar com essa palhaçada. – Mas todo o resto se ofende tanto com o Homem do Jornal que viram-se todos de costas e voltam às suas tristezas. É nessa hora que o Homem do Jornal lê uma tirinha engraçada e ri alto. – Acabei recordando uma coisa engraçada, vocês lembram quando – Cale a boca! – Respondem todos em coro – Não sabe respeitar uma dor? Precisamos sofrer! E é quando todos os outros começam a cessar seus choros, que o Homem do Jornal olha por cima dos óculos, dobra o jornal, se levanta, coloca o jornal dobrado bem rente às axilas e vai andando em direção a porta. Estou esperando vocês lá fora, me avisem quando essa palhaçada acabar.
De todos da minha cabeça, sei o nome da maioria. Mas até hoje, não sei o nome do Homem do Jornal e não me sinto a vontade para perguntá-lo.
César Gomes