terça-feira, fevereiro 01, 2022

Ovos fritos

    Quando olho no espelho, sim, eu me reconheço. Vejo um rosto familiar, sei que sou eu. Mas, ao fundo, o que penso mesmo é que sou por acaso. Digo, sim, sou eu. Mas não sinto uma certeza absoluta como quando vamos fazer um ovo frito e ao vê-lo no prato pensamos "Sim, o ovo que acabei de fazer". Não. Eu me olho no espelho e penso que o que reflete é um mero acaso. Assim como quando olho para João e penso "Estou olhando para João, mas poderia ser qualquer outra pessoa. O Jorge, a Catarina ou uma árvore". Assim que sinto, o que vejo no espelho, sim, sou eu, mas poderia ser qualquer outro refletido. Esse que vejo não me parece que simplesmente é. 


    Mas esse que pensa e olha, esse olhar que vê o espelho, esse não. Esse transpassa apenas o reconhecimento. Não me questiono se sou eu. Mas isso dura pouco. E acabo pensando também, assim como se deu no reflexo "Esse que pensa, sim, sou eu... Mas por mero acaso".