terça-feira, outubro 12, 2021

Entrei em contato com o calor de um passarinho
Não sei raça, não o vi
Se voava ou descansava num galho
Não o sei
Qual encontro inesperado
e improvável

Eu e um passarinho
na imensidão do universo
ou melhor
Eu e o calor úmido do passarinho
na imensidão do universo

Um bem-te-vi no altar

Um passarinho fez um ninho bem a cima do altar.

Não no altar, mas lá no lustre, bem em cima do altar.
Cantávamos juntos améns, glórias e misereres.

De certo, seus raminhos cheiravam a incenso.
Quando cantava me fazia olhar pro alto
fazia meu canto também se elevar
em coral com o bem-te-vi.

Mas hoje a missa foi silenciosa
tiraram o lustre daquele altar
[manutenções, obrigações.
Contingente]
Foi-se o ninho do bem-te-vi.

Na silenciosa missa de hoje,
ecoava o triste piar do passarinho
assobiando améns, glórias, mas mais misereres.

Pio bem-te-vi.
Não encontrou seu ninho,
não reconheceu as faces
nem luzes, nem os sons.
O contraste do lá de fora
Não canto, mas barulho
Não lustre, mas concreto
Não incenso, mas fumaça.
Onde reconstruir um ninho?
Logo um que seus raminhos cheiravam a incenso.

Mas há de se reconstruir um ninho, sempre.
"Considerai como crescem os lírios do campo"
Pensou o bem-te-vi. E piou baixinho
Amém, glória e meserere mei.