segunda-feira, fevereiro 07, 2011

O Homem do Jornal

E depois que fiquei adulto sempre que choro, pode ser o maior dos prantos, mas sempre que choro, uma parte de mim, como um outro, simplesmente não se abala. Enquanto o resto se deságua em lagrimas, essa parte senta numa poltrona de dentro da minha cabeça e lê seu jornal tranqüilo. Vez ou outra ele abaixa o jornal e questiona - Para que esse chororô todo? Vai se olha no espelho! Você realmente está tão triste assim? Essa vontade de se olhar no espelho, de onde vem? A faça-me o favor, vá lavar o rosto e parar com essa palhaçada. – Mas todo o resto se ofende tanto com o Homem do Jornal que viram-se todos de costas e voltam às suas tristezas. É nessa hora que o Homem do Jornal lê uma tirinha engraçada e ri alto. – Acabei recordando uma coisa engraçada, vocês lembram quando – Cale a boca! – Respondem todos em coro – Não sabe respeitar uma dor? Precisamos sofrer! E é quando todos os outros começam a cessar seus choros, que o Homem do Jornal olha por cima dos óculos, dobra o jornal, se levanta, coloca o jornal dobrado bem rente às axilas e vai andando em direção a porta. Estou esperando vocês lá fora, me avisem quando essa palhaçada acabar.
De todos da minha cabeça, sei o nome da maioria. Mas até hoje, não sei o nome do Homem do Jornal e não me sinto a vontade para perguntá-lo.
César Gomes

Um comentário:

Mário Melo disse...

Segunda identificação! Depois dele escarnecer um bocado de mim aprendi a ouvi-lo o qnt antes, de fato não vale a pena ficar sofrendo tanto! Adorei teu homem do jornal! =P