Vesti o umeral e solenimente retirei o relógio do alto da parede. Não ousaria toca-lo. Sem baixar os braços fui à cômoda. Já deixara a gaveta mais alta aberta. Não olhei a hora, não ousava olhar a hóstia do tempo. Acomodei-o numa delicadeza desconhecida, mas corajosa. Não hávia corporal, foi direto na gaveta. Traquei depressa. A cômoda, agora sacrario do tempo, me transmitia um pavor tremendo. Dali em diante não comunguei do tempo. Vivi alheio à velhice e à mocidade. Deus me perdoe pela fuga.
terça-feira, junho 17, 2025
sexta-feira, maio 23, 2025
Hoje queria matar essa dor
Mas não simplesmente deixa-la ir,
parar de sentir
Quero senti-la sufocando
agonizante
Entre meus dedos rijos e disformes
E afoga-la nesta baba venenosa
e no choro catarrento
Mata-la. Esgana-la.
Não quero paz
Eu quero a guerra assassina
Matar a única que me põe no colo.
Acabar, contudo.
Mas não simplesmente deixa-la ir,
parar de sentir
Quero senti-la sufocando
agonizante
Entre meus dedos rijos e disformes
E afoga-la nesta baba venenosa
e no choro catarrento
Mata-la. Esgana-la.
Não quero paz
Eu quero a guerra assassina
Matar a única que me põe no colo.
Acabar, contudo.
segunda-feira, maio 05, 2025
Pássaros Platônicos
O dia que vi morto
um beija-flor na relva
Conheci uma revoada
Lindas aves de liberdades
próprias (e de próprias
também prisões)
um beija-flor na relva
Conheci uma revoada
Lindas aves de liberdades
próprias (e de próprias
também prisões)
O peito do novo amigo
já é ninho. Galho seguro
E nuvem branca
já é ninho. Galho seguro
E nuvem branca
O sacrifício da candura
do beija-flor
Trouxe o riso
Um bando de sorrisos
a povoar o dia
do beija-flor
Trouxe o riso
Um bando de sorrisos
a povoar o dia
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