terça-feira, junho 17, 2025

Hóstia do tempo

Vesti o umeral e solenimente retirei o relógio do alto da parede. Não ousaria toca-lo. Sem baixar os braços fui à cômoda. Já deixara a gaveta mais alta aberta. Não olhei a hora, não ousava olhar a hóstia do tempo. Acomodei-o numa delicadeza desconhecida, mas corajosa. Não hávia corporal, foi direto na gaveta. Traquei depressa. A cômoda, agora sacrario do tempo, me transmitia um pavor tremendo. Dali em diante não comunguei do tempo. Vivi alheio à velhice e à mocidade. Deus me perdoe pela fuga.